Ah, a memória…

Esta semana li uma crítica do novo restaurante Ca`d`Oro em uma publicação semanal. O crítico achou tudo ruim desde as esquadrias de alumínio, até o carbonara.

Até no titulo da matéria (Melhor na Memória) existe nostalgia. O jornalista, acredito, esperava ver os grandes janelões com cortinas de voil, aquele medonho carpete estampado, ser recebido pelo maitre Ático e comer a comida de sonho dos anos 90.

No guia 4 Rodas de 2006, três anos antes do fechamento do Hotel, o restaurante aparece longe das grandes cozinhas do ano (Fasano e Massimo) e não ostenta estrela alguma, já mostrando a sua decadência.

Será que hoje a comida do Ca`d`Oro de 20 anos atrás teria destaque na cena gastronômica atual?

Há alguns anos fui ao restaurante que ganhou em uma época destaque de melhor carne em todos os guias da cidade. o filé do Moraes  e seu enorme filet mignon com alho frito. Sai de lá decepcionadíssimo. O filé já não era mais o mesmo, o restaurante chinfrim e o preço altíssimo.

A sensação foi péssima quando descobri que o restaurante sempre foi daquele jeito, o bife que amávamos era aquele mesmo e o preço sempre foi alto.

A cena das churrascarias e restaurantes de carne havia mudado completamente nestes anos que fiquei afastado do Morais. Quem mudou fui eu com acesso à maravilhosos cortes argentinos e a convivência com profissionais como Marcos Bassi e István Wessel, para quem trabalhei durante vários anos, que me ensinaram tudo de carne.

Hoje, o Filé do Moraes nem no guia Veja Comer e Beber aparece.

O pior é comparação com a comida de vó. Esta, ninguém faz melhor! A gente houve relatos de gente que depois de anos foi comer a receita da vó que aquela tia do interior faz igualzinho e a decepção foi imediata. Não é a mesma lasanha! Será que não?

Recentemente fui à fazenda do meu amigo Marçal em Conselheiro Lafaiete com declarado objetivo de comer frango ao molho pardo. Que frango saboroso! Franco caipira criado solto com longo cozimento no fogão à lenha.

Era muito diferente do frango à cabidela que saia do fogão à lenha comandado pela Munda, cozinheira da minha vó, no Cajueiro do Ministro no Aquiraz, Ceará. A travessa imensa era prontamente esvaziada por eu meus irmãos e primos, todos de férias no campo.

Desta vez, consegui não cair na armadilha da comparação. Aproveitei um frango ao molho pardo como nunca. Estava delicioso.

O danado é que a nossa memória, às vezes, é traiçoeira…

Frango ao molho Pardo Pouso Caipira Fazenda Calunga (Santana dos Montes-MG)