Mauro Hola

O curador françês

Numa noite chuvosa em Porto Alegre, participei de uma mesa redonda com fotógrafos gaúchos, mediada por um curador francês. Mal eu chego no auditório descubro se tratar de François Barré, entre outras coisa ex diretor do Centro Georges Pompidou em Paris e diretor geral do Encontro de fotografia de Arles, na França, referência para todos os fotógrafos artistas do mundo.

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Na ocasião mostrei algumas fotos da minha série Alma Descarnada, que estava desenvolvendo para uma exposição em Porto Alegre. François Barré, para minha surpresa, parece que ficou impressionado com o meu trabalho. Quase não acreditei quando após o debate ele veio em minha direção com um cartão de visitas na mão pedir se eu podia lhe enviar uma ampliação para aquele endereço. Em troca veio uma belíssima apresentação para a minha exposição.

Poucos meses atrás tive a oportunidade de mostrar parte da Exposição Alma Descarnada em São Paulo. Na ocasião a galeria distribui para a imprensa um press release onde constava anexo esta apresentação feita por Barré. Como foi bom reencontrar com ela! É um texto curto, preciso e direto. Vale a leitura.

O Chef da Fotografia

Encontrei com o fotógrafo Mauro Holanda em Porto Alegre, Brasil, há alguns meses e descobri a qualidade e a força de um criador que concretiza uma obra envolvente. Esses corpos suspensos do tempo numa eternidade curta de decomposição e de estupor, perdidos em meio ao nada, ainda coesos em sua integralidade de superficie, de pele, ou já desmembrados ; a esses corpos desviados e escondidos do seu tempo da liberdade de vôo e do frescor do ar da manhã, Mauro Holanda concede-lhes uma nova realidade e os sacraliza pela magia da Arte.

Habituado às imagens de imprensa que acompanham as receitas e os segredos da gastronomia, o fotógrafo as entreviu de maneira diversa entre as inumeráveis fotografias produzidas, cenarizadas, montadas, daqueles que foram destituídos de penas e de peles para a comodidade da atividade em cozinha, pela preparação dos pedaços e dos cozidos.  Nesse canteiro de carnes e de plumas pelo qual todos passam sem sequer olhar, como se fosse o espaço rotineiro das agitações do trabalho, ele captou subitamente a expressão trágica da vida reanimada dentro da objetividade da morte, um aspecto novo de uma memória dissipada da carne ainda fremente, de seus sobressaltos e de seus prazeres. Colocados, sem pose e sem artifícios, esses corpos silenciosos nos apontam e nos informam o nosso destino.        François Barré

Neste momento uma foto desta série faz parte da exposição Comida em foco no piso térreo do Shopping Market Place. Quem quiser ver toda exposição pode acessar em www.mauroholanda.com.br .