Vamos Comer um imaterial?

Virado à Paulista Brar da Dona Onça

Esta semana viralizou na internet através das redes sociais o bordão: hoje bati um prato do patrimônio imaterial.
Ué, a comida não é material, principalmente uma bomba calórica como o virado à paulista?
Este caso do tombamento do virado à paulista pegou todo mundo de surpresa. Era um assunto que poucos falavam e quem conhecia este assunto não o levava a sério.
Acho bacana esta coisa de levantar a bola do virado, típico prato de boteco. Virado que é virado tem todas as qualidades e os defeitos dos pratos de balcão de bar, onde tudo é mais ou menos.
Pouquíssimos restaurantes na cidade fazem um virado de respeito. No geral ele é meio gourmetizado e cheio de onda. O virado tem que ser selvagem com muita comida no prato e uma bela bisteca frita. Acompanhamento é cerveja, aquela comum mesmo, não vinho tinto que a garrafa custa quatro vezes o valor do prato.
Bem imaterial que se preze tem que considerar o entorno. Imagina um virado gourmet servido em um restaurante de luxo com talheres de prata, toalha e guardanapos impecavelmente passados e dobrados com um garçom colado à sua mesa?
Não há rango imaterial que resista a este bombardeio de rapapés.
Aliás, qual a razão de tombar um prato de comida? Ele só existe enquanto as pessoas quiserem comê-lo. Não vai ser um tombamento que fará as pessoas comerem mais este ou aquele prato.
Este assunto quem decide é a população. Se a turma resolver que fazer moqueca em panela de pedra é melhor, o que vai acontecer com as paneleiras de Goiabeiras, bem tombado pelo Iphan?
Para que tombar um prato de comida?
Acho que bastaria incentivar o estudo aprofundado desta comida para registrá-la como é hoje. Existem acadêmicos e curiosos estudando a nossa comida popular em todo Brasil. As pesquisas vão de comidas indígenas, até cozinha caipira em São Paulo, passando por toda sorte de comida e costumes alimentares.
Seria mais produtivo que nossos governos (municipal, estadual ou federal) incentivassem estas pesquisas e a publicação de livros sobre estes assuntos em vez de se preocupar com tombamentos promocionais.
Certamente em algum momento todas estas técnicas ou costumes vão morrer, tombadas ou não. Então, é melhor que sejam registradas agora em vez de somente
festejadas com tombamentos.