O espetáculo das baleias


Recentemente em uma arrumação deparei com uma caixa cheia de negativos e ampliações fotográficas. Esta chamou minha atenção.
Eram minhas primeiras fotos, quando fotografava qualquer assunto de todas as formas possíveis, coisa de um adolescente curioso com loucura por aprender e tudo fazia.
Minha câmera me acompanhava nas viagens, assim como a autorização que eu tinha que tirar no juizado de menores para poder viajar desacompanhado.
Num período de férias, eu e meu primo Pedro Paulo, munidos de nossas autorizações, pegamos um ônibus e fomos ao Nordeste. Como o dinheiro era curto, nossa hospedagem era sempre na casa de parentes. Nossa primeira parada foi em João Pessoa onde morava minha tia Irismar.
Cabedelo, um município perto de João Pessoa, tinha uma curiosa atração turística: a pesca (ou caça) da baleia feita por uma empresa japonesa. Hoje pode parecer estranho, mas na época era só um atrativo a mais.
Compramos os ingressos e pegamos um ônibus no final da tarde. Quando a noite começava a cair o barco chegava com a sua carga de enormes animais.
Um guindaste puxou os dois animais, atrações da noite, para um pátio cheio de homens de boné, calçando botas e luvas de borracha, carregando machados, motosserras e enormes facões prontos para o serviço, que começava depois que todos os turistas se acomodassem em uma pequena arquibancada de madeira.
O espetáculo começa.
O barulho das serras, dos machados e a gritaria dos homens em japonês era emocionante. O cheiro era intenso e estranho. Os pedaços de carne eram maiores do que os homens de boné. A impressão era que eles estavam cortando uma coisa, não um animal.
Parecia que estávamos em um filme, especialmente pela quantidade de sangue espalhado por todo chão. Depois de pouco mais de uma hora os homens recolhem os pedaços de carne e começam a lavar o chão.
Acho que jamais verei algum espetáculo como aquele.
A primeira vez que fui fotografar um matadouro não me impressionei com todo aquele movimento. Era tudo muito pequeno e muito civilizado perto do que eu havia conhecido na Paraíba.
Hoje os japoneses continuam caçando baleias mais por questões políticas como garantir o acesso às águas internacionais para os seus pesqueiros, do que econômicas. Só uma pequena parcela da população consome a carne de baleia com frequência.
Graças à indústria do petróleo e à popularização da eletricidade, a baleia não foi exterminada dos mares. Cada cachalote carrega em sua cabeça cerca de mil litros de espermacete, substância excelente para fazer velas claras que soltam pouca fumaça.
O óleo da baleia usado para iluminação urbana foi substituído pelo querosene e a vela de espermacete trocada pelas de parafina e pelas lamparinas com querosene.
Se não tivesse surgido alguma opção como o petróleo será que ainda teríamos baleias nadando no mar?
Hoje a baleia é uma fonte de energia dispensável com a fartura de petróleo e peixes criados pelo mundo todo.
Deve ser só por isso que ainda temos baleias por aí!